O amor que sinto

 
O amor que sinto é um labirinto. Nele me perdi com o coração cheio
de ter fome do mundo e de ti (sabes o teu nome), sombra necessária
de um Sol que não vejo, onde cabe o pária, a Revolução e a Reforma
Agrária sonho do Alentejo. Só assim me pinto neste Amor que sinto.
Amor que me fere, chame-se mulher, onda de veludo, pátria mal-amada,
chame-se "amar nada" chame-se "amar tudo". E porque não minto
sou um labirinto.

 Entrei no café com um rio na algibeira

 

Entrei no café com um rio na algibeira e pu-lo no chão,
a vê-lo correr da imaginação... A seguir, tirei do bolso
do colete nuvens e estrelas e estendi um tapete de flores
a concebê-las. Depois, encostado à mesa, tirei da boca
um pássaro a cantar e enfeitei com ele a Natureza das
árvores em torno a cheirarem ao luar que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir A melodia sem contorno Deste
acaso de existir -onde só procuro a Beleza para me iludir
dum destino.